décio saes

D SaesDécio Azevedo Marques Saes: entrevista teórico-política

O cientista político Décio Saes é autor de uma obra que combina rigor teórico em elevado nível de abstração, frequentemente apoiado na pesquisa histórica, com a investigação de temas centrais da formação social brasileira – sobretudo na passagem do escravismo para o capitalismo. Concentrando-se no estudo teórico do Estado e da democracia, foi um dos principais responsáveis pela manutenção do Estado como objeto central da Ciência Política brasileira, sobretudo quando o liberalismo buscava questionar a centralidade do seu estatuto teórico.

Articulando ainda a análise dos fenômenos políticos com uma marcante perspectiva sociológica, especialmente voltada para o estudo das classes e dos grupos sociais. Para isso, não apenas apoiou-se na contribuição de Nicos Poulantzas, como promoveu uma reinterpretação original das teses do marxismo althusseriano, sobretudo as relativas à teoria da história.

O resultado foi a abertura de novas possibilidades para uma análise articulada e coerente da formação social brasileira em seus diferentes momentos históricos. Além disso, como intelectual engajado, Décio Saes tem elaborado análises conjunturais fecundas como mostra, por exemplo, o artigo sobre o governo FHC. Mais recentemente, Décio Saes, sem abandonar os estudos de Ciência Política e sobre o materialismo histórico, dedicou-se à análise crítica do tema da cidadania e da educação.

Concedida a Marcelo Lira Silva, a entrevista abaixo foi publicada originalmente na Revista Aurora, Marília, v. 6, n. 2, p. 19-32, jan.-jul., 2013. Na entrevista, o leitor fica conhecendo a trajetória acadêmica e intelectual desse marxista.

Outros textos de Décio Saes são também aqui divulgados.

Editoria

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Revista Aurora: Quais foram suas referências intelectuais e políticas, quando se aproximou da esquerda?

Décio Saes: Quando entrei na FFLCH (Faculdade de Filosofia), ela vivia em uma fase de profundo ecletismo teórico e acadêmico. A marca do curso de Ciências Sociais havia sido impressa na Faculdade pelo grande mestre Florestan Fernandes, que pensava que a melhor postura a se tomar no campo da observação e análise da realidade social era a combinação dos métodos ligados a diversas posições teóricas. Essa orientação era predominante na faculdade.

Um clima mais favorável a definições precisas no campo teórico só começou a se instalar a partir de 1968. Até então, o clima era de grande ecletismo; e nós, alunos, combinávamos diferentes autores, de diferentes tendências. Afinal, nós víamos Florestan Fernandes e seus discípulos praticando esse ecletismo. Isto vinha da sociologia francesa e de certa maneira rebateu na faculdade de filosofia graças à presença do francês Roger Bastide, de quem Florestan Fernandes foi assistente. A partir de 1967–1968, o ecletismo teórico foi se tornando impossível por conta do movimento estudantil, que começou a pressionar a categoria docente por uma definição teórica mais rigorosa, mais precisa. E nesse ponto justamente chegou ao Brasil o pensamento de uma nova corrente do marxismo europeu, mais especificamente francês, que era a corrente liderada pelo filósofo Louis Althusser. Eu rapidamente me interessei por tal filósofo, que era influenciado pelas teses do estruturalismo, muito forte na França no campo da antropologia com Lévy-Strauss e da linguística com Ferdinand Saussure. O estruturalismo repercutiu mesmo dentro do marxismo e essa subcorrente surgiu tendo como líder Althusser.

Essa corrente, nos casos de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e de outros estados, repercutiu no seio da categoria docente, nossos professores começaram a ser influenciados por ela. Nós, discentes, também passamos a nos filiar a esta corrente diretamente, sem que necessariamente nos fosse sugerido. Ao fazer meu doutorado, era um debutante nos estudos althusserianos.

Chegando a Paris, procurei apurar qual era a inserção acadêmica dos membros da corrente althusseriana, e a seguir fui inscrever-me nos cursos dos professores que pertenciam a esta vertente. Tive o privilégio da escolha tanto na École Pratique des Hautes Études quanto na Sorbonne, pois, embora meu orientador não pertencesse à corrente althusseriana, tratava-se de um professor liberal, generoso, que parecia de fato compreender o que se passava com os estudantes. Seu único desejo era que cada um fizesse o melhor possível dentro do caminho teórico que havia sido escolhido. Assim, pude trabalhar com toda a liberdade, escrevendo meu doutorado e todos meus trabalhos posteriores dentro da perspectiva althusseriana.  texto integral

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Livros:

Democracia

Estado e democracia: ensaios teóricos

(artigos: 1. O conceito de Estado burguês; 2. Do Marx de 1843-1844 ao Marx das obras históricas: duas concepções distintas de Estado; 3. Coronelismo e Estado burguês: elementos para uma reinterpretação; 4. Monarquia e capitalismo; 5. A esquerda e a questão dos sistemas de governo no Estado democrático-burguês; 6. A democracia burguesa e a luta proletária; 7. Socialismo e democracia)

Artigos:

A construção da teoria regional do político no modo de produção capitalista In: mímeo

A corrente althusseriana e o desenvolvimento do materialismo histórico In: Novos Rumos

A orientação materialista na pesquisa de pós-graduação em Ciências Humanas e História: uma proposta de orientação com partido In: Revista Germinal

A questão da autonomia relativa do Estado em Poulantzas In: Crítica Marxista

A superioridade da democracia socialista In: Revista Princípios

Althusserianismo e antropologia In: Lutas Sociais

Althusserianismo e dialética In: Jair Pinheiro (org). Ler Althusser

As frações da classe dominante no capitalismo: uma reflexão teórica In: Milton Pinheiro (org.). Ditadura o que resta da transição

As lições de Comte (um comentário sobre Sociologia comteana – gênese e devir, de Lelita Oliveira Benoit) In: Crítica Marxista

Cidadania e capitalismo: uma crítica à concepção liberal de cidadania In: Crítica Marxista

Classe média e políticas de classe (uma nota teórica) In: Contraponto

Considerações sobre a análise do sistema de classes In: Andréia Galvão (org.). Marxismo e Ciências Humanas

Democracia representativa e democracia participativa In: Umesp

Estado capitalista e classe dominante In: Crítica Marxista

La corriente althusseriana y el desarrollo del materialismo histórico In: Demarcaciones

Marxismo e história In: Crítica Marxista

O impacto da teoria althusseriana da história na vida intelectual brasileira In: João Quartim de Moraes (org.). História do marxismo no Brasil (vol. 3)

O lugar da noção de sujeito na sociedade capitalista In: Lutas Sociais

O lugar do pluralismo político na democracia socialista In: Crítica Marxista

Revolução hoje? In: Lua Nova

Uma contribuição à crítica da teoria das elites In: Revista de Sociologia & Política

 

Política brasileira e latino-americana

 

Livros:

A formação do Estado burguês no Brasil (1888-1891)

Classe média e politica na Primeira República brasileira (1889-1930)

Classe média e sistema político no Brasil

República do capital: capitalismo e processo político no Brasil (artigos: 1. Florestan Fernandes e a revolução burguesa no Brasil; 2. A questão da “transição” do regime militar à democracia no Brasil; 3. Estado e classes sociais no capitalismo brasileiro nos anos 70/80; 4. A política neoliberal e o campo político conservador no Brasil atual; 5. A evolução do Estado no Brasil (uma interpretação marxista); 6. Democracia e capitalismo no Brasil: balanço e perspectivas)

Artigos:

com Armando Boito Jr.. Três teses equivocadas: a respeito de quem domina o Estado brasileiro  In: Jornal Movimento, n. 198, 1979 (ver página 6 do pdf)

com Armando Boito Jr.. O peleguismo e o sindicato unitário In: Jornal Movimento, n. 262, 1980 (ver página 8 do pdf)

com Armando Boito Jr.. Autonomia sindical: Resposta a David Capistrano Filho In: Jornal Movimento, n. 269, 1980 (ver página 6 e 7 do pdf)

com Armando Boito Jr.. Autonomia sindical II In: Jornal Movimento, n. 271, 1980 (ver página 8 do pdf)

com Armando Boito Jr.. A unidade deve surgir da luta: resposta ao leitor Eliezer Pacheco  In: Jornal Movimento, n. 273, 1980 (ver página 23 do pdf)

A abolição da escravidão como etapa fundamental da transformação burguesa do Estado no Brasil In: Resgate: Revista Interdisciplinar de Cultura

A participação das massas brasileiras na revolução anti-escravista e anti-monárquica (1888-1891) In: Revista Brasileira de História

A questão da evolução da cidadania política no Brasil  In: Estudos Avançados

Capitalismo e processo político no Brasil: a via brasileira para o desenvolvimento do capitalismo In: Boletim Campineiro de Geografia

Classe média e política no Brasil (1930-1964) In: História da Civilização Brasileira (Volume 10)

Direitos sociais e transição para o capitalismo: o caso da Primeira República Brasileira (1889–1930) In: Estudos de Sociologia

Modelos político latino-americanos na nova fase da dependência In: Francis Mary Nogueira e Maria Lúcia Rizotto (orgs). Políticas sociais e desenvolvimento (América Latina e Brasil)

O processo político brasileiro, da “Abertura” à “Nova República”: uma “transição para a democracia” (burguesa)? In: Teoria & Politica

Os intelectuais e suas associações In: Maria Susana Arrosa Soares (org.). Os Intelectuais nos processos políticos da América Latina

Os tenentes divididos In: Cadernos de Debate

República – debates In: Resgate: Revista Interdisciplinar de Cultura

Educação (teoria, pesquisa e análise concreta)

 Artigos:

coautoria de Maria Leila Alves. A complexidade do real: A diversidade dos conflitos sociais na escola pública In: Revista Intersaberes

coautoria de Maria Leila Alves. Conflitos ideológicos em torno da eleição de diretores de escola pública

coautoria de Maria Leila Alves. Problemas vividos pela escola pública: do conflito social aos conflitos funcionais (uma abordagem sociológica) In: Linhas Críticas

coautoria de Maria Leila Alves. Uma contribuição teórica à análise de conflitos funcionais em instituições escolares da sociedade capitalista In: Revista Brasileira de Política e Administração da Educação In: Educação & Linguagem

coautoria de Silvana Tavares Ferrarez. Metamorfoses da ideologia docente

A ideologia docente em a ‘A Reprodução’, de Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron In: Educação & Linguagem

A relação entre escola e família (uma abordagem sociológica) In: Educação & Linguagem

Cidadania e educação In: Fabiane S. Previtali, Carlos Lucena, Antonio Bosco de Lima (orgs.). Desafios do trabalho e educação no século XXI

Classe média e escola capitalista In: Crítica Marxista

Educação e socialismo In: Crítica Marxista

Escola pública e classes sociais no Brasil atual In: Linhas Críticas

Fracasso escolar e classes sociais no Brasil atual In: Educação & Linguagem

Interdisciplinaridade e intercientificidade In: Educação & linguagem

O direito à educação nas Constituições: um modelo de análise In: Revista de Educação – PUCCamp

O lugar dos conceitos de estrutura e instituição na pesquisa em educação In: Cadernos Ceru

Obstáculos políticos à concretização do direito à educação no Brasil In: Linhas Críticas

Perfis psicossociais de professor In: Educação & Linguagem

Raízes sociais e o caráter do movimento estudantil In: Cara a Cara

Visões teóricas sobre a história da educação In: Educação & Linguagem

 Entrevistas e depoimento:

Cara a Cara com Décio Saes In: Cara a Cara

Entrevista (com Marcelo Lira Silva) In: Revista Aurora

Reflexões de um docente e pesquisador In: Educação & Linguagem

 Vídeos:

Educação e socialismo (1:18:45)

Althusserianismo e dialética (Umesp)

Althusserianismo e dialética (PUC-SP)

 

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