Roberto Schwarz é um pensador crítico brasileiro cuja obra – segundo suas palavras – “seria impensável (…) sem a tradição – contraditória – formada por Lukács, Benjamin, Brecht e Adorno, e sem a inspiração de Marx”.
Nascido em Viena, em 1938, seus pais, judeus austríacos, emigraram ao Brasil em 1939. Em 1960, graduou-se em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Com apenas 20 anos de idade, seria um dos mais jovens integrantes do renomado Seminário Marx – organizado, em fins dos anos 1950, por docentes da USP – que objetivava estudar O Capital. Até sua aposentadoria em 1978, foi professor de Teoria Literária e Literatura Comparada na USP e, anos depois, docente de Teoria Literária no IEL da Unicamp (1978-1992). Desde os anos 1960, tem sido um mais dos ativos e consistentes críticos – que se orientam pela tradição marxista – sobre a produção cultural (literatura, cinema, teatro, artes plásticas) brasileira. Seus livros e ensaios são referências decisivas para quem busca uma compreensão crítica e dialética do capitalismo brasileiro.
Por meio desta breve homenagem de marxismo21 – livros, artigos, entrevistas, traduções, vídeos –, pode-se avaliar a qualidade e o refinamento do trabalho intelectual de Roberto Schwarz. Gratos somos a Lidiane Soares. membro do CC de marxismo21, que colaborou com o envio de alguns materiais inseridos no dossiê.
Editoria
ps. Um extenso e cuidadoso dossiê Marxismo e Cultura – publicado neste site em outubro de 2015 – divulga também alguns trabalhos de Roberto Schwarz.
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Um Seminário de Marx
“A história mundial não existiu desde sempre, a história, como história mundial, é um resultado”. Karl Marx, Fundamentos da crítica da economia política, “Introdução”.
O marxismo está em baixa e passa por ser uma ladainha. Entretanto acho difícil não reconhecer que alguns dos argumentos mais inovadores e menos ideológicos do debate brasileiro dependem dele, com sua ênfase no interesse material e nas divisões da sociedade. Será mesmo o caso de esclarecer ou calar — o nexo entre lógica econômica, alienação, antagonismos de classe e desigualdades internacionais? E será certo que a vida do espírito fica mais relevante sem estas referências?
Como tive a sorte de participar de um momento de marxismo crítico, me pareceu que seria interessante contar alguma coisa a respeito. Refiro-me a um grupo que se organizou em São Paulo, a partir de 1958, na Faculdade de Filosofia, para estudar O capital. O grupo deu vários professores bons, que escreveram livros de qualidade, e agora viu um de seus membros virar presidente da República. Naturalmente não imagino que o marxismo nem muito menos nosso seminário tenham chegado ao poder. Mas mal ou bem é possível reconstituir um caminho que levou da Faculdade de Filosofia da rua Maria Antônia e daquele grupo de estudos à projeção nacional e ao governo do país. Embora propício a deduções amalucadas, é um tema que merece reflexão.
Qual a origem do seminário? Como tudo que é antediluviano, ela é nebulosa e há mais de uma versão a respeito. Giannotti conta que na França, quando bolsista, frequentou o grupo Socialismo ou Barbárie, onde ouviu as exposições de Claude Lefort sobre a burocratização da União Soviética. De volta ao Brasil, em 1958, propôs à sua roda de amigos, jovens assistentes de esquerda que estudassem o assunto. Fernando Novais achou que era melhor dispensar intermediários e ler O Capital de uma vez. A anedota mostra a combinação heterodoxa e adiantada, em formação na época, de interesse universitário pelo marxismo e distância crítica em relação à União Soviética. ler mais
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I. Artigos e prefácios (revistas acadêmicas, livros e imprensa)
A poesia envenenada de Dom Casmurro
Brazilian culture: nationalism by elimination
Complexo, moderno, nacional e negativo
Em Estorvo, Chico Buarque inventa uma forte metáfora para o Brasil contemporâneo
Leituras críticas – A poesia de Francisco Alvim
Nota sobre vanguarda e conformismo
O sentido histórico da crueldade em Machado de Assis
Originalidade da crítica de Antonio Candido
Prefácio com perguntas – livro Ornitorrinco do Francisco de Oliveira
Pressupostos, salvo engano, de “Dialética da Malandragem”
Sobre a nossa pré-história recente – prefácio do livro A hora do teatro épico no Brasil
Sobre o raciocínio político de Oliveiros S. Ferreira (co-autoria com Ruy Fausto)
Sobre os quadros parisienses de Dolf Oehler
Uma aventura artística incomum
Uma prosa de ensaio. Sobre os últimos combates de Robert Kurz
II. Livros de crítica literária e crítica social e política
Martinha versus Lucrécia. Ensaios e entrevistas
O pai de família e outros estudos
Um mestre na periferia do capitalismo – Machado de Assis
III. Livros de ficção
IV. Homenagens
Sobre um velho amigo: Michael Löwy
Valor intelectual: sobre Chico de Oliveira
V. Entrevistas
A dialética envenenada de Roberto Schwarz
Do lado da viravolta – Entrevista com Roberto Schwarz (Fernando Haddad & Maria Rita Kehl)
Machado de Assis: um debate (Novos Estudos)
Peça de Roberto Schwarz ganha montagem
Roberto Schwarz (por Gildo Marçal Brandão e O. C. Louzada Filho)
Visões do paraíso – sobre maio de 1968
VI. Vídeos
A atualidade do pensamento de Roberto Schwarz: https://www.youtube.com/watch?v=gKrvmo0KsC0
Debate de lançamento do livro Nós que amávamos tanto O Capital https://www.youtube.com/watch?v=qbikyt7zKmE
Leituras de Marx no Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=FpDUVzjeN5w