Estado burguês e classes dominantes no Brasil (1930-1964), Francisco Pereira de Farias, CRV, São Paulo. 2017, por Renato Nucci Jr., Conselho Consultivo de marxismo21 e Organização Comunista Arma da Crítica.
O livro de Francisco Pereira de Farias, Estado Burguês e Classes Dominantes no Brasil (1930-1964), constitui-se em importante contribuiçãopara compreendermos o complexo movimento de consolidação do capitalismo no Brasil. Dividido em quatro capítulos, o primeiro trata de lançar as bases teóricas e metodológicas que sustentam a pesquisa e a tese defendida pelo autor, de que teria havido uma crise de hegemonia ao longo do período analisado. Já os capítulos dois, três e quatro são dedicados aanalisar o caráter e a postura política, no período estudado, respectivamente das frações da burguesia industrial, do capital mercantil e da propriedade fundiária.
Em cada um destes capítulos, Farias abre-os já indicando a situação politica de cada uma das respectivas frações. Tanto a burguesia industrial como o capital mercantil são apresentados como frações politicamente não-hegemônicas. A diferença entre ambas é que enquanto a burguesia industrial está em um movimento de ascensão, o capital mercantil conhece um movimento de declínio. Nem por isso a balança da hegemonia passou a pender em favor da primeira contra a segunda. Teria existido entre elas um equilíbrio de força, cujos interesses divergentes e conflitantes foram ao longo de todo esse período arbitrados pelas decisões técnico-administrativas da burocracia do Estado. Já a propriedade fundiária é caracterizada como uma fração pré-capitalista e subordinada no bloco no poder.
O estudo do caráter e da postura dessas frações leva o autor, principalmente nos capítulos dedicados a burguesia industrial e ao capital mercantil, a considerar aspectos interessantes, mas na maioria das vezes ignorados nos estudos do tema. Tratam-se dos conflitos regionais e dos culturais e de como, ideologicamente, engatam-se ambos no complexo processo de luta pela hegemonia. No caso do capital mercantil é interessante a análise concreta apresentada pro Farias sobre o estado do Piauí. O autor demonstra como o capital mercantil local “impõe restrições ao parque produtivo na área periférica” (p. 95), sugerindo que o atraso de certas regiões do Brasil pode ser considerado não como mero resultado de uma especialização produtiva gerada por fatores históricos ou naturais. O desenvolvimento, atrasado e dependente de algumas regiões do Brasil, seriam o produto de uma articulação das frações mercantis desses estados com as frações industriais dos estados mais avançados. ler mais