Jacob Gorender

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Jacob Gorender (1923-2013) participou ativamente dos principais debates e embates políticos que, desde a década de 1940, atravessaram a sociedade brasileira; foi atuante dirigente comunista, jornalista e autor de importantes livros que impactaram o debate intelectual, não obstante nunca estar vinculado aos quadros acadêmicos do país. Autor de extensa e variada obra, marcada pelo rigor teórico e pesquisa exaustiva, Gorender abordou temas de história e historiografia, problemáticas de natureza política, social, cultural e epistemológica. Neste dossiê publicamos alguns de seus trabalhos (livros, artigos, entrevistas), textos sobre sua obra, vídeos etc. que permitem conhecer o rigor intelectual deste qualificado e combativo marxista brasileiro.

Publicado originalmente em agosto de 2013,  o dossiê foi atualizado (revisto e ampliado) nos últimos dias de 2019.

Editoria / 2 de janeiro de 2020

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A atualidade de O Capital 

Jacob Gorender

A minha conferência hoje é o início de um ciclo. Ninguém aqui deve esperar que eu ofereça um painel completo de uma obra como O Capital (…) Hoje pretendo apresentar um quadro geral dessa obra de Karl Marx, referir-me à sua atualidade e chamar a atenção para algumas questões que dizem respeito exatamente ao seu caráter geral. Os aspectos mais particulares, as muitas contribuições especiais dessa obra ficarão a cargo dos conferencistas seguintes.

Falarmos na atualidade de O Capital, porventura, uma arrogância depois dos desmoronamentos dos regimes do Leste Europeu que se diziam baseados na teoria marxista, tanto em Marx, quanto em seus principais seguidores, particularmente em Lenin (daí ter se criado o termo marxismo-leninismo)? Ou depois do sucedido nesses países e do fato de que, em todos eles ou na grande maioria, se faz um esforço enorme para a implantação do capitalismo? Como então afirmar que a obra de Marx tem atualidade? Não será ela uma obra ultrapassada, que os fatos desmentiram e, com isso, merece a atenção apenas dos eruditos como um capítulo encerrado na história das ideias? Será isso? Obviamente, a ofensiva do neoliberalismo, tanto prática como teórica e ideologicamente, desde os fins dos anos 70, quer fazer com que acreditemos na falência do marxismo. E o que sucedeu nesses últimos anos, com o esfacelamento dos regimes dirigidos pelos partidos comunistas do Leste Europeu e a dissolução da própria União Soviética, parece confirmar o prognóstico do neoliberalismo. Quero frisar, aqui, que me refiro precisamente ao neoliberalismo e não ao liberalismo do século XVIII. Embora um provenha do outro, eles pertencem a épocas muito diferentes e têm sinais diferentes. ler mais

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Jacob Gorender, intérprete do Brasil

David Maciel

Faleceu no último dia 11 de junho, o grande historiador e intelectual marxista brasileiro Jacob Gorender. Participante ativo dos principais debates políticos e teóricos que marcaram a esquerda brasileira nos últimos 60 anos, por meio de sua militância política e de uma infinidade de artigos e livros, Jacob Gorender se notabilizou no cenário intelectual brasileiro pela elaboração de duas referências fundamentais para a historiografia brasileira e internacional nos temas que discute, os livros O Escravismo Colonial, de 1978, sobre o caráter da formação social brasileira nos períodos colonial e imperial; e Combate nas Trevas, de 1987, sobre a ação da esquerda armada durante a Ditadura Militar.

Nascido em Salvador, em 1923, cedo Gorender se engaja no movimento estudantil e no Partido Comunista Brasileiro, na Bahia, e logo em seguida, em 1943, abandona o curso de direito na Faculdade de Direito de Salvador e alista-se na Força Expedicionária Brasileira (FEB), indo lutar na Itália no final da Segunda Guerra. De volta ao Brasil após a guerra, desloca-se a São Paulo e depois ao Rio de Janeiro e a partir daí passa a atuar organicamente na imprensa do partido, tornando-se um dos seus principais intelectuais, assumindo funções diretivas até a ascensão ao comitê central, em 1960. Entre os anos de 1955 e 1957 frequenta o curso de formação de quadros do PCUS, em Moscou, consolidando sua formação intelectual nos marcos da tradição stalinista. Como fruto deste processo, integra a comissão que elaborou a famosa Declaração de Março de 1958, que fundamenta programaticamente a estratégia reformista de aliança com as forças ditas “progressistas”, inclusive a burguesia nacional, em favor de uma revolução nacional e democrática de perfil antiimperialista e anti-latifundiário. ler mais

I. Livros:

O escravismo colonial (1978)

A burguesia brasileira (1981)

Combate nas trevas (1987)

A escravidão reabilitada (1990)

Marxismo sem utopia (1999)

O Brasil em preto & branco: a escravidão que não passou (2000)

II. Artigos e prefácios/introdução de livros

Uma filosofia para degenerados (Fundamentos, 2, 1948)

Aydano do Couto Ferraz e a liberdade de criação intelectual  (Fundamentos, 3, 1948)

A filosofia humana de nossa época  (Fundamentos, 7-8, 1948)

Julio Fuchik e os caminhos da literatura do proletariado (Fundamentos,9-10, 1949)

Figuras do movimento operário: Stálin (Problemas, n. 23, 1949)

A Penetração Militar do Imperialismo Ianque no Brasil (Problemas, n. 28, 1950)

A tragédia pequeno-burguesa num palco da Broadway  (Fundamentos, 15, 1950)

A vida heróica de Luís Carlos Prestes (Fundamentos, 17, 1951)

Tu nos deste a honra, a bandeira, o partido  (Fundamentos, 33, 1953)

Revista Brasiliense (Estudos Sociais, n. 1, 1958)

Política exterior em crise (Estudos Sociais, n. 2, 1958)

Correntes sociológicas no Brasil (Estudos Sociais, n. 3-4, 1958)

A espoliação do povo brasileiro pela finança internacional (Estudos Sociais, n. 6, 1959)

A questão Hegel (Estudos Sociais, n. 8, 1960)

O V Congresso dos comunistas brasileiros (Estudos Sociais, n. 9, 1960)

Perspective de l’homme/Roger Garaudy (Estudos Sociais, n. 9, 1960)

Em torno de um requerimento de informações (Novos Rumos, 14, 1959)

Reforma cambial e falsa ciência (Novos Rumos, 17, 1959)

Presença de Lênin (Novos Rumos, 60, 1960)

Crítica ou falsificação? (Novos Rumos, 63, 1960)

A oposição “esquerdista” e a contradição principal (Novos Rumos, 65, 1960)

Algumas lições da vida prática (Novos Rumos, 70, 1960)

Marxismo e utopia reacionária (Novos Rumos, 120, 1961)

As novas tendências da obra de Jorge Amado (Novos Rumos, 125, 1961)

Do desenvolvimento ao marxismo (Novos Rumos, 158, 1962)

Sobre o “exotismo” das ideologias (Novos Rumos, 159, 1962)

O reforçamento do latifúndio à luz do Censo de 1960 (Novos Rumos, 249, 1963)

Direções da luta pela democracia em nosso tempo (Estudos Sociais, n. 18, 1963)

A alternativa conciliadora do Plano Trienal (Novos Rumos, n. 208, 1963)

O Plano Trienal e o combate à inflação (Novos Rumos, n. 209, 1963)

O Plano Trienal a caminho da falência (Novos Rumos, n. 217, 1963)

Resposta a uma agressão pessoal (Encontros com a Civilização Brasileira, n. 5, 1978)

Três livros e uma interpretação sobre o socialismo (Movimento, 190, 1979, pp. 22-23 do pdf)

O grande burocrata (Movimento, 234, 1979, p. 18 do pdf)

O conceito de modo de produção e a pesquisa histórica (In: Lapa, J.R. do Amaral (org.). Modos de produção e realidade brasileira. Petrópolis, Vozes, 1980)

64: o fracasso das esquerdas (Movimento, 299, 1981, pp. 14-15 do pdf)

Para a crítica da Economia Política. Introdução, 1982

Apresentação d’O Capital (Série Economistas)

Questionamentos sobre a teoria econômica do escravismo colonial (Estudos Econômicos, 1(13), 1983)

Coerção e consenso na política (Estudos Avançados, 3(2), 1988)

Introdução. O nascimento do materialismo histórico (In: Marx, Karl e Engels, Friedrich. A ideologia alemã. Martins Fontes, 1989).

Teoria econômica e política revolucionária no marxismo russo (introdução) (In: Bukharin. São Paulo, Coleção Grandes Cientistas Sociais, 1990)

Sobre a dissolução da União Soviética (Crítica Marxista, n. 1, 1994)

Confluências e contrações da construção sociológica (Revista da Adusp, 1995)

Estratégias dos Estados nacionais diante do processo de globalização (Estudos Avançados, 9 (25), 1995)

Graciliano Ramos: lembranças tangenciais (Estudos Avançados, 9(23), 1995)

Hegemonia burguesa – reforçada pela prova eleitoral de 1994 (Crítica marxista, 1(2), 1995)

Globalização, tecnologia e relações de trabalho (Estudos Avançados, 11(29), 1996)

A atualidade de O Capital (Lutas Sociais, n.2, 1997)

O Manifesto do Partido Comunista: um documento datado e não datado (Lutas Sociais, n. 4, 1998)

A prova da história (Estudos avançados, 12(34), 1998)

Desafios para uma força social emergente (Estudos Avançados, 14(39), 2000)

Era o golpe de 1964 inevitável? (In: Caio Navarro Toledo (org.). 1964: visões críticas do golpe. Democracia e reformas do populismo, Unicamp, 1997).

O épico e o trágico na história do Haiti (Estudos avançados, 18 (50), 2004).

A questão agrária no Brasil – o debate na esquerda (In: João Pedro Stédile (org.). A questão agrária no Brasil – o debate na esquerda – 1960-1980, Expressão Popular, 2005)

Regime territorial no Brasil escravista (In: João Pedro Stédile (org.). A questão agrária no Brasil – o debate na esquerda – 1960-1980, Expressão Popular, 2005)

Trajetória de um herói (sobre Apolônio de Carvalho, Teoria e Debate, 2005)

Gênese e desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro (In: João Pedro Stédile (org.). A questão agrária no Brasil – o debate na década de 1990, Expressão Popular, 2013)

A sociedade cindida (Estudos avançados 38(80), 2014)

Esclavismo colonial: modo de producción históricamente nuevo (Antologia Clacso, 2018)

III – Entrevistas:

Entrevista ao projeto Marcas da memória

Entrevista Margem Esquerda

Entrevista Revista Samuel

Entrevista Teoria e Debate

Liberalismo e escravidão (Estudos avançados)

Memórias de um aprendiz de russo (entrevista OESP)

O PCB e sua atuação nos anos 50 (entrevista Revista Brasileira de História)

O socialismo sobreviverá como força de massas tanto no Leste como no Ocidente (Entrevista Brasil Revolucionário)

Programa Roda Viva

Seja realista, peça o impossível (Movimento Estudantil Brasileiro – depoimento)

Sobre a questão da democracia, entrevista com Jacob Gorender (Teoria e política)

Testemunha da história (Teoria e Debate)

Uma vida de teoria e práxis (entrevista revista Arrabaldes)

Um novo modo de produção? (Movimento, 157, 1978, pp.19-20 do pdf)

Não houve revolução (Movimento, 277, 1980, pp. 12-13 do pdf)

IV. Trabalhos e debates sobre a obra de Jacob Gorender

Acomodação, negação e adaptação: debate historiográfico entre Gilberto Freyre, Jacob Gorender e a Historiografia do Escravo Real (Historiografia da escravidão no Brasil),  Leandro Goya Fontella, Luís Augusto Ebling Farinatti

A escravidão colonial brasileira na visão de C. Prado Jr. e J. Gorender: uma apreciação crítica , Andrés Ferrari e Pedro Cézar Fonseca

Autoritarismo, controle e vigilância: Jacob Gorender na mira da repressão (1940-1980), Lucileide Costa Cardoso

A polêmica historiográfica como um espaço de embate teórico e político: O caso de Jacob Gorender, S. Chalhoub e S. Lara , Carlos Fernando de Quadros

A revolução epistemológica de Jacob Gorender, Tiago Pansera

Caio Prado Júnior, Jacob Gorender e a escravidão colonial brasileira: uma apreciação crítica, Andrés Ferrari e Paulo Cezar Dutra Fonseca

Experiências de formação política e intelectual de um comunista – etnia, leituras e militância estudantil de Jacob Gorender, um jovem membro do PCB em Salvador (1923-1943), Carlos Fernando de Quadros

Jacob Gorender , Lincoln Secco

Jacob Gorender: em memória de um gigante, Mario Maestri

Jacob Gorender e o caráter da ditadura militar de 1964-1985, Mario Maestri

Jacob Gorender, um militante comunista – estudo de uma trajetória política e intelectual no marxismo brasileiro (1923-1970), Carlos Fernando de Quadros

Jacob Gorender. (In Intérpretes do Brasil – Luiz Bernardo Pericás e Lincoln Secco (org. ).Clássicos, rebeldes e renegados), Mario Maestri

Marxismo: aposta e crítica (Carta a Jacob Gorender), João Antonio de Paula

Marxismo sem classe operária é possível?, Duarte Pereira

Marxismo, aposta e crítica , João Antônio de Paula

O Escravismo Colonial e um debate ainda atual, Bruno A. Picoli

O escravismo colonial: a revolução copernicana de Jacob Gorender, Mario Maestri

Resenha de Marxismo sem utopia, Armando Boito Jr. e Caio Navarro de Toledo

Sobre a trajetória teórica e política de J. Gorender , Caio N. de Toledo

Uma discussão historiográfica sobre o escravismo no Brasil: as perspectivas de Jacob Gorender e de Sidney Chalhoub, João Carlos Furlani, Nicodemo Valim de Sena 

V. Vídeos com entrevistas, palestras e intervenções públicas

150 anos do Manifesto Comunista (Neils/PUCSP)

A esquerda revelada

Ato em Defesa do Marxismo

Debate: Jacob Gorender – O Escravismo Colonial e A Escravidão Reabilitada

Jacob Gorender fala sobre o Escravismo colonial

Programa Roda Viva (2006)

Homenagem a Jacob Gorender I Curso Livre Marx & Engels 

 

 

 

 

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