Marxismo e Antropologia, György Markus, Editora Expressão Popula. 2015. Henrique Wellen. Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Pouco conhecido no Brasil, praticamente apenas de forma inicial e pontual a partir da publicação, em 1974, do seu livro intitulado de “Teoria do Conhecimento no Jovem Marx”[1], György Markus (1934 – 2016) foi um filósofo húngaro que dedicou grande parte dos seus estudos e pesquisas à análise da subjetividade a partir da tradição marxista. Markus foi, juntamente com Agnes Heller, Ferenc Fehér e Mihály Vajda, um dos integrantes da chamada Escola de Budapeste[2], que, conforme aponta Coutinho (1974, p. 09), constituía-se por um círculo de “discípulos e colaboradores mais próximos” do filósofo marxista György Lukács. E, além do contato pessoal com Lukács, conforme se explicita em temas e análises presentes em suas obras, Markus também recebeu uma grande influência teórica e metodológica do seu antigo mestre, ao ponto de ser considerado um dos maiores representantes do chamado “humanismo marxiano” (MUELLER, 2015).
Markus teve uma formação inicial em filosofia na Universidade de Lomonosov, em Moscou e, depois, doutorou-se, com uma análise crítica sobre o pensamento de Wittgenstein, pela Academia Húngara de Ciências, onde também foi, por quase duas décadas, pesquisador no Instituto de Filosofia. Em meados nos anos 1970, tornou-se professor visitante do Instituto de Filosofia da Universidade Livre de Berlim (Freie Universität) e, no final dessa mesma década, migrou para a Austrália, onde foi professor titular da Universidade de Sidney. Posteriormente, a partir de 1990, ele retomou alguns vínculos acadêmicos com a sua terra natal, quando foi eleito membro externo da Academia Húngara de Ciências e, também, quando se tornou professor visitante da Central European University, em Budapeste (MUELLER, p. 2015, p. 09 – 10; COUTINHO, 1974, p. 11).
Contudo, o seu deslocamento para a Universidade de Sidney e, consequentemente, para a Austrália, não representou apenas uma alteração de local de trabalho e de pesquisa, mas também expressou um movimento de inflexão ideológica de antigos integrantes de chamada Escola de Budapeste. Antes dessa mudança geográfica, eles já haviam demonstrado insatisfação com rumos tomados pelo processo revolucionário socialista (que tinha a União Soviética como epicentro, mas se alastrava para outros países integrantes do bloco socialista, como a Hungria). Em seguida, esses pesquisadores também começaram a explicitar algumas duras críticas ao pensamento do seu antigo mestre. ler mais