Ellen Meiksins WOOD O Império do Capital. São Paulo: Boitempo, 2014.
Eduardo Barros Mariutti, Professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas. (Texto escrito especialmente para o blog.)
A editora Boitempo recentemente publicou a tradução de Empire of Capital, de Ellen Meiksins Wood. A edição original do livro foi publicada em 2003 pela editora Verso (Londres) na iminência do ataque estadunidense ao Iraque, um momento bastante oportuno para esta temática. O livro foi reeditado em 2005, praticamente sem mudanças significativas. A cuidadosa tradução de Paulo Cezar Castanheira para o português baseia-se na edição de 2005, mas apresenta algumas pequenas diferenças. A mais significativa é a inclusão de um interessante capítulo suplementar, intitulado “Resposta aos Críticos”[1], onde a autora responde as principais críticas e comentários feitos ao livro em um simpósio realizado em 2007. A edição da Boitempo não incluiu os dois prefácios da edição original, mas incluiu um prefácio exclusivo para a edição brasileira que, entretanto, não passa de uma ligeira reformulação do prefácio de 2005.
Nesta resenha, analisarei O Império do Capital à luz do conjunto da obra de Ellen Wood. A despeito de ampla variedade temática, sua produção intelectual parte de um prisma unificador: a transição do feudalismo ao capitalismo. [2] É a esta luz que ela tenta articular temas tão variados como, por exemplo, a polêmica sobre a noção de liberdade na Grécia[3], o pós-modernismo[4], as relações entre capitalismo e democracia[5] e o imperialismo capitalista. O segundo grande referencial de sua obra que, com bastante dificuldade, ela tenta harmonizar com o primeiro, é a questão do socialismo, isto é, a luta pela superação do capitalismo.
Tendo este quadro mais geral em vista, estruturei a resenha da seguinte forma. Apresentarei inicialmente o argumento básico de O Império do Capital. Na sequência, irei decompor o argumento em seus elementos constitutivos. Feito isso, examinarei a sua posição sobre as características gerais do imperialismo estadunidense. Após esta síntese geral, passarei aos comentários, onde exporei algumas críticas e tentarei situar a autora no quadro das reflexões teóricas sobre o imperialismo.
Argumento geral
Ao separar a economia das demais dimensões da realidade, o capitalismo criou não somente uma nova forma de exploração – diretamente econômica e indiretamente “política” – do trabalho, mas também, uma forma peculiar de rivalidade interestatal, a qual decorre do descolamento entre o escopo limitado do poder extraeconômico dos Estados Territoriais e o alcance mais vasto do capital. No entanto, o “capital global” só pode se manter por intermédio de uma ordem social internacional rigidamente regulada por uma potência capitalista que usa o seu poder militar e demais formas extraeconômicas de coerção de forma indireta, optando preferencialmente por manipular os mecanismos econômicos do capitalismo, prioritariamente de acordo com seus interesses, contendo as “ameaças” (sistemas sociais alternativos, Estados potencialmente contra-hegemônicos, etc.), mas sem contrariar frontalmente os Estados “capitalistas” poderosos. O imperialismo capitalista, portanto, é uma forma opaca de dominação, derivada da diferenciação da esfera econômica, mas que depende ainda do poder extra-econômico, porém, em uma forma política peculiar: “não um Estado Global, mas um sistema global de Estados múltiplos.” ler mais