PEREIRA, Duarte. Repensando o Marxismo.1ª edição, Editora Anita Garibaldi, São Paulo, 2016
Flávio Antonio de Castro – Conselho Consultivo de marxismo21
A obra de Duarte Pereira aqui resenhada foi prefaciada por Haroldo Lima que, com acuidade, selecionou os artigos que a compõem, apresentando várias intervenções do autor em seu objetivo de repensar o marxismo. Nelas, Duarte Pereira apresenta os argumentos dos autores que questionaram o mecanicismo na concepção materialista, a esquematização reducionista do marxismo e o dogmatismo que sacrifica a dialética. Mas não para por aí. O autor dialoga criticamente com esses autores, aprimorando e elevando o conteúdo das análises. Para Haroldo Lima, Duarte Pereira analisa problemas decorrentes da crise do capitalismo, da reestruturação do capitalismo, das formas mais adequadas de se encaminhar a luta de classes em países de tradição democrática e elevado nível econômico, e de como entender a configuração moderna do proletariado.
O livro se inicia com a entrevista do autor, sob o tema A crise do socialismo, a reestruturação do capitalismo e os novos desafios dos trabalhadores, na qual argumenta que
o socialismo só pode ser construído democrática e cientificamente, e que se se pretender construí-lo negando a iniciativa das massas trabalhadoras, com base em uma camada minoritária ou em setores isolados, ele se torna inviável. O socialismo não é uma solução tecnocrática para certos problemas econômicos e sociais e, também, não pode ser imposto à classe operária. Implica a existência de uma economia planificada, exige elevado grau de consciência em sua construção e apurado esforço de compreensão da realidade (p.19)
Explica as razões do fracasso da ditadura do proletariado; critica o acelerado processo de coletivização da agricultura na URSS e desencadeia o debate em torno do fulcro principal da obra: a impregnação positivista que o marxismo carrega em sua análise do desenvolvimento da sociedade humana. Cita Marx e a problemática interpretação, a partir de seus textos, de serem as leis sociais tão rígidas e tão objetivas como as leis naturais, o que geraria uma insuficiência de elaboração do marxismo. Disto decorreria a ideia simplificadora de que a história marcha inevitavelmente para o socialismo. Para Duarte Pereira, os fundamentos do marxismo não estão postos em xeque, mas sim sua compreensão e seu desenvolvimento. No desenrolar da entrevista, entre outros temas, o autor trata do capitalismo nas sociedades capitalistas avançadas, onde a classe operária tende a se tornar minoritária, exigindo que ela seja capaz de estabelecer alianças com outras classes e camadas trabalhadoras, o que seria tão importante quanto fora a aliança operário-camponesa no começo do século XX. ler mais