Brasil Hoje

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Cildo Meireles

A crise brasileira se arrasta dolorosamente há anos. Agravada pela ascensão de Bolsonaro ao governo e pela pandemia, afeta milhões de trabalhadores com desemprego, arrocho salarial, fome, supressão de direitos, repressão política e morte. Seu desenlace é de difícil solução e não se coloca no horizonte próximo, exigindo dos trabalhadores, das forças de esquerda e dos progressistas não apenas capacidade de mobilização, organização e articulação política, mas também de compreensão do período e da conjuntura da luta de classes no país. Diante disto, marxismo21, que tem por objetivo suscitar o debate franco, aberto e pluralista no seio das esquerdas brasileiras, publica este dossiê com a expectativa de contribuir para a resistência popular e a construção de uma alternativa dos trabalhadores para a crise brasileira. 

Com o objetivo de suscitar o debate franco, aberto e pluralista no seio das esquerdas brasileiras, marxismo21 propôs a seus convidado/as que, na elaboração de seus textos, levassem em conta as questões abaixo:

  • Como caracterizar a crise brasileira e sua dinâmica?
  • Natureza, objetivos e propostas do governo Jair Bolsonaro: qual seu papel na crise brasileira?
  • Quais seriam as tarefas políticas e ideológicas que a esquerda brasileira – particularmente, a socialista -, deve assumir na atual conjuntura para barrar a ameaça de um novo golpe, derrotar a ofensiva burguesa em curso e viabilizar uma perspectiva político-programática de interesse dos trabalhadores?

Somos gratos aos autores dos textos enviados especialmente para este dossiê. Uma colaboração especial é a de Ronaldo Rosas Reis que, por meio de três séries de trabalhos, na área das arte plásticas, examina o Brasil atual. Nas palavras desse membro do Conselho Consultivo, busca-se aqui “captar o significado concreto da vertiginosa aceleração da decadência social do país a partir de meados do ano de 2016“. 

Editoria

I. Textos:

Conjuntura Política Atual do Brasil. Ofensiva burguesa, governo Bolsonaro e as tarefas dos comunistas, Cem Flores.

O sistema imperialista – hoje, a totalidade da economia mundial – se mantém sob o signo da crise do capital pelo menos desde 2007/08, com perdas permanentes de produto e recuperação apenas parcial das taxas de lucro. Essa crise do conjunto do sistema imperialista também se manifesta sob a forma de crises nacionais, em cada formação econômico-social, que são suas componentes, expressam o agravamento de suas contradições e têm características próprias, particulares e específicas. ler mais

A crise brasileira e sua dinâmica, David Maciel.

Podemos caracterizar a crise brasileira como uma crise de hegemonia de grande complexidade e profundidade, desencadeada a partir do colapso da política de conciliação de classes protagonizada pelos governos do PT, baseada na combinação entre neoliberalismo moderado, indutivismo econômico estatal, políticas sociais compensatórias e passivização/cooptação das organizações políticas e movimentos sociais do mundo do trabalho. Ler mais

Contribuições do ecossocialismo para derrotar a extrema direita brasileira, Henrique Tahan Novaes

Ao que tudo indica, as fundações materiais da vida humana na terra nos levaram a um ponto de crise histórica. O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de agosto de 2021 demonstrou cientificamente que a humanidade corre um sério risco de enfrentar graves problemas ambientais nas próximas décadas, se forem mantidos os padrões de produção e consumo atuais. ler mais

A radicalização do neoliberalismo e da barbárie capitalista no Brasil, Marcos Del Roio 

Desde antes do golpe institucional que depôs a presidente Dilma Rousseff estava em pauta o aprofundamento e radicalização do projeto neoliberal absorvido pela burguesia brasileira desde fins dos anos 80 do século XX. De fato, a crise dentro de crise capitalista de 2008, para ser superada, segundo o entendimento do grande capital financeiro transnacional e também dos Estados Unidos, exigia essa radicalização, o que implicaria uma grande ofensiva contra os trabalhadores e contra os povos. Ler mais

Entre fascismo e bonapartismo: as bases do regime político brasileiro, Osvaldo Coggiola

As peculiaridades do desenvolvimento político brasileiro foram distintamente captadas por Mário Pedrosa, em textos da década de 1930 publicados nos jornais das organizações trotskistas às quais pertencia. Ele constatava que os primeiros partidos políticos brasileiros de abrangência e atuação nacional eram o PCB e o fascismo integralista. Ler mais

Mil dias de governo Bolsonaro, Ricardo Musse 

No dia primeiro de maio de 2021, Bruno Meyerfeld, correspondente no Rio de Janeiro do jornal Le Monde, escreveu: “Enquanto a marca de 400.000 mortes foi ultrapassada no final de abril, o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro afirma não ter cometido “erros” ao lidar com a crise. Pergunta-se: como ele consegue se segurar? O Brasil, devastado pela variante P1, banido no cenário internacional, tem mais de 400 mil mortos da Covid-19 e afunda cada vez mais na carnificina humanitária. Ler mais

 II. Brasil Hoje: desenhos e pinturas. 

Brasil: reflexos de uma sociedade, por Ronaldo Rosas Reis

Brevíssima apresentação

Os desenhos e pinturas de brasil aqui ora apresentados segundo uma seleção prévia que realizei, compõem partes das séries “O contrato”, “Gabinete” e “Quem matou”, sendo a minha contribuição possível para o dossiê de marxismo21. Os trabalhos foram realizados no meu estúdio do Rio de Janeiro nos anos seguintes em que, aposentado da Universidade Federal Fluminense, em 2016, me encontrava dividido entre seguir lecionando e orientando na pós-graduação por mais alguns anos ou encerrar definitivamente as atividades acadêmicas e retomar intensamente o desenho e a pintura, atividades deixadas à margem do meu cotidiano a partir de meados dos anos 1980. Naquela ocasião havia optado por mergulhar fundo nas lides universitárias e na luta sindical, sendo que apenas eventualmente me dispus ao trabalho artístico.  Esclareço isso porque se agora chamo de “contribuição possível” o que apresento neste dossiê, se deve ao fato de as artes plásticas terem retomado a centralidade da minha atenção. 

Em conjunto as séries buscam captar o significado concreto da vertiginosa aceleração da decadência social do país a partir de meados do ano de 2016. Cada desenho, cada pintura das séries realizadas entre 2017 e 2021 em meio a outras séries e obras isoladas no âmbito do repertório temático de referência que utilizo, traz internamente a pretensão de satirizar a decadência que ora anima essa espelunca pátria. Como artista tenho feito um grande esforço – e, devo dizer, com igual alegria de quem ainda tem desafios pela frente – no sentido de “[…] representar o universo imediato, o ambiente da humanidade em sua interação com a essência, com as reais forças motrizes da sociedade e da história, […] até figurar artisticamente a essência apreendida” (LUKÁCS, 2009, p. 170)[1]

Teresópolis, RJ, primavera, 2021 ler e ver mais.

 

 

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